Controle Mais Eficaz de Custos

Wagner Siqueira*

Sempre que ocorre uma grave crise de recessão, ou pior ainda uma pandemia como a de coronavírus, explicitamente todas as organizações veem-se frente à necessidade de reduzir custos. Com raras exceções, elas recorrem aos métodos mais usuais, banais mesmo, de redução de custos. E todos rezam na mesma cartilha!

Cortar despesas é como cortar unhas: é preciso cortar sempre! Mas se cortar errado, cortar demais, cortar o que não deve ser cortado, infecciona os dedos. Você os perde e deixa de andar.

Esses métodos usuais de corte de despesas, praticados na quase totalidade das organizações, geram economia mediante providências que abalam seriamente a capacidade produtiva de seus sistemas humanos. O alívio obtido pelo corte indiscriminado de despesas a curto prazo não é compensado pelos efeitos negativos a médio e longo prazos bem mais substanciais, e frequentemente, maiores do que a economia realizada a curto prazo.

É preciso mudar a maneira de pensar e de agir gerencialmente em relação ao corte de despesas. Cortar despesas versus aumentar a receita é uma dicotomia equivocada. É o mesmo equívoco brasileiro em relação ao combate à coronavírus: saúde versus economia? São irmãs siamesas.

O foco do gestor deve ser aumentar a receita, e, em função da viabilização ou não da receita, cortar as despesas que não contribuam efetivamente para a realização das receitas, que não guardem com elas quaisquer conexões relevantes, que não contaminem o sentido de motivação, de autorrealização e de pertencimento. O mau desempenho se agrava com a má gestão com foco obsessivo de corte radical de gastos.

Em muitos casos, cortes irrefletidos e desinformados de despesas acabam por matar a galinha dos ovos de ouro das organizações, exato lá onde se localizam ativos altamente generosos de receitas, que não são vistas por conta do exagero – até inconsequente – de uma percepção equivocada de cortar despesas como uma compulsão gerencial acrítica à realidade dos ativos e passivos existentes nas organizações.

Consequentemente, corta-se irrefletidamente tantos custos que leva a organização à morte por falência múltipla em função do pecado da cegueira gerencial que praticou insistente e abusivamente.

Em verdade, a questão mais relevante do futuro das organizações pode ser como compatibilizar autoridade e racionalidade, ou como substituir o critério da autoridade por outros critérios mais produtivos ao desempenho de pessoas, equipes e interequipes, e, portanto, do coletivo organizacional.

Quanto mais me envolvo com organizações e executivos, mais admito que as organizações de vanguarda – e somente estas sobreviverão – hão de ser aquelas em que a autoridade e obediência serão variáveis irrelevantes para a excelência organizacional.

 

(*) Wagner Siqueira é consultor de organização. Foi Secretário de Administração da Prefeitura do Rio de Janeiro, Presidente do Riocentro e Secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio, além de exercer muitos outros cargos na Administração pública e privada. Site Wagnersiqueira.adm.br

Drumond Assessoria de Comunicação