A forte estiagem que vem castigando o Norte e Noroeste Fluminense já resultou na morte de mais de 20 mil cabeças de gado, por fome e sede, em 2017, principalmente nos últimos quatro meses. O levantamento foi feito a partir de dados enviados pelas 14 prefeituras que decretaram situação de emergência até a publicação desta reportagem.

O prejuízo na economia desses municípios já passou dos R$ 70 milhões este ano, ainda segundo o levantamento. No Noroeste, onde a economia é baseada principalmente no agronegócio, estão 11 dos municípios que já publicaram decretos alertando sobre a falta de chuva e solicitando recursos das esferas estadual e federal: Bom Jesus do Itabapoana, Cambuci, Italva, Itaocara, Itaperuna, Laje do Muriaé, Miracema, Natividade, Santo Antônio de Pádua, São José de Ubá e Varre-Sai.

As outras três cidades, Cardoso Moreira, São Fidélis e São João da Barra, estão na mesorregião Norte. Segundo o coordenador regional da Defesa Civil estadual no Norte e Noroeste, tenente-coronel Joelson Oliveira, as estimativas do órgão apontam que essa estiagem é a mais forte que atingiu a região desde 2010.

“Tivemos estiagens que geraram prejuízo em 2014 e 2011, mas tudo indica que essa atual já superou as últimas duas em perdas para os municípios”, explicou.

Em São Fidélis, primeira cidade do Norte Fluminense a decretar emergência, foram aproximadamente 100 animais mortos durante um período de quatro meses sem chuvas expressivas, quando houve diminuição de 72,57% no índice pluviométrico em comparação com o mesmo período do ano passado.

A situação na cidade levou o produtor rural Onisede Formoso a viver da venda de ovos e porcos após 50 anos tendo a produção leiteira como carro-chefe em sua propriedade, na localidade Piraí.

“Eu precisei comprar um caminhão de cana para alimentar o gado, porque sem água para plantar os animais estão ficando sem alimento e morrendo”, lamentou.

Na pequena Varre-Sai, cidade menos populosa entre as que publicaram o decreto, o prejuízo causado pela estiagem assusta. Mesmo sendo o maior produtor de café do estado, foram aproximadamente R$ 10 milhões em prejuízos no setor agropecuário, segundo cálculos da prefeitura. Além da produção cafeeira, o município conta com produção de leite e gado de corte.

O prefeito, Dr. Silvestre (PSD), acredita que o decreto pode ajudar Varre-Sai a se recuperar. “Através do decreto, podemos buscar apoio junto aos governos estadual e federal, o que ajudará, e muito, o município neste momento difícil no qual passamos”, disse.

Um dos municípios que mais perdeu animais, Natividade teve uma diminuição de mais de 800 mil litros de leite na produção deste ano em comparação com 2016, o que gerou um prejuízo de aproximadamente R$ 640 mil.

Abastecimento de água foi afetado

O baixo nível dos rios Paraíba do Sul, Pomba, Muriaé, Carangola e Itabapoana, que abastecem os municípios da região, também preocupa. A Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) divulgou que precisou reduzir o abastecimento de água em Miracema e Varre-Sai. A estiagem também levou a Cedae a reduzir o fornecimento em outras cidades da região que não decretaram emergência: Carapebus, Macaé e Porciúncula.

Em Pádua, a concessionária Águas de Pádua chegou interromper o fornecimento por um dia no final de setembro para realizar uma obra emergencial. A empresa estava com problemas de captação devido ao baixo nível do Rio Pomba.

Nas zonas rurais de São Fidélis e Cardoso Moreira, algumas localidades estão sendo abastecidas com a ajuda de caminhões-pipa.

Queimadas

Comuns em época de pouca chuva e vegetação seca, queimadas têm sido registradas em toda a região nos últimos meses. Só em Miracema, aproximadamente 1.500 hectares já foram atingidos por mais de 30 queimadas neste ano. No dia 18 de outubro, foram três focos de incêndio, que atingiram uma área equivalente a 638 campos de futebol. A Defesa Civil da cidade está usando drone para monitorar a área de vegetação e identificar queimadas.

Fonte: G1/Norte